sábado, 26 de maio de 2018

STF manda soltar mandante do assassinato de Dorothy Stang


Agência Brasil, 25/05/2018
Mandante do assassinato de Dorothy Stang deixa prisão no Pará
Por Felipe Pontes
O fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, condenado a 25 anos de prisão como um dos mandantes do assassinato da missionária Dorothy Stang, foi solto no final da tarde desta sexta-feira (25) do Centro de Recuperação Regional de Altamira, no Pará. Ele teve o pedido de habeas corpus aceito pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello. O crime foi cometido em 2005, em Anapu, no Pará.

Ao determinar a soltura, o ministro Marco Aurélio afirmou que “precipitar a execução da pena importa antecipação de culpa”, o que seria contrariar a Constituição Federal. Marco Aurélio destacou que o STF é a “última trincheira da Cidadania” e afirmou que a República vive “tempos estranhos”, sendo necessário “resistência democrática”.

O fazendeiro é o único dos cinco condenados que conseguiu retardar sua prisão, obtendo o direito de recorrer em liberdade. Inicialmente condenado a 30 anos de prisão pelo Tribunal do Júri, ele teve a pena reduzida para 25 anos pelo ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Jutiça (STJ), em maio de 2017. Na ocasião, o ministro também determinou a prisão do fazendeiro, já que a condenação havia sido confirmada em segunda instância. Fischer seguiu o entendimento atual do STF sobre o assunto.

Comissão Pastoral da Terra
Em nota, a Comissão Pastoral da Terra lamentou a decisão do ministro e a soltura de Regivaldo Galvão. Há dois meses, o Padre Amaro, que atua na mesma região de Dorothy Stang foi preso acusado de crimes como extorsão e lavagem de dinheiro. A detenção do religioso é considerada pela CPT uma perseguição orquestrada pelos latifundiários paraenses.

Paulo César Santos, membro da coordenação nacional da CPT, afirma que a soltura do fazendeiro Regivaldo Galvão comprova a absurda situação fundiária do Brasil.

“É simbólico esse habeas corpus porque uma figura tão reconhecida nacional e internacionalmente como Dorothy Stang, uma luta tão clara e reconhecida a favor das famílias, e um dos mandantes do assassinato recebe habeas corpus é um fato simbólico de que a impunidade perpetua e é atrelada aos poderes que nós temos nesse país, nesse caso o Poder Judiciário. Então é lamentável.”

Com o mesmo entendimento, de que Reginaldo Galvão tem o direito de recorrer em liberdade até o trânsito em julgado, quando não há mais possibilidade de apelação, Marco Aurélio já havia concedido, em 2012, um habeas corpus em favor do fazendeiro. A decisão, entretanto, foi revogada em junho de 2017, por maioria da Primeira Turma do STF.

Assassinato de Dorothy Stang
A missionária norte-americana Dorothy Stang foi assassinada com seis tiros em fevereiro de 2005, em uma estrada rural do município de Anapu (PA), no local conhecido como Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança (PDS).

Ela era a maior liderança do projeto, atraindo a inimizade de fazendeiros da região que se diziam proprietários das terras que seriam utilizadas no projeto.

Dorothy Stang chegou ao Brasil nos anos 1970 para realizar trabalhos pastorais na região amazônica. Sua atuação focou projetos de reflorestamento e de geração de emprego e renda para a população pobre local. Foi assassinada aos 73 anos e sua morte se tornou um símbolo da luta por reforma agrária planejada e responsável, que visasse minimizar conflitos violentos, uma de suas principais bandeiras.

O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura também foi condenado a 30 anos como segundo mandante do crime. Amair Feijoli Cunha, indicado como intermediário, foi condenado a 17 anos. Clodoaldo Batista, um dos autores do assassinato, foi condenado a 18 anos de prisão. Rayfran das Neves Sales, autor dos disparos, foi condenado a 7 anos de prisão. Todos chegaram cumprir pena, mas tiveram direito à progressão e saíram do regime fechado.


G1 - O Globo, 25/05/2018
STF concede habeas corpus ao fazendeiro responsável pela morte da missionária Dorothy Stang
Em nota, a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado disse que não recebeu, até o momento, notificação oficial sobre a decisão.

Folha de S. Paulo, 25/05/2018
Ministro do Supremo manda soltar mandante do assassinato de Dorothy Stang
Em 2010, Regivaldo Pereira Galvão foi condenado a 30 anos de reclusão por homicídio qualificado 

Notícias R7, 25/05/2018
STF manda soltar condenado por morte de Dorothy Stang
Marco Aurélio Mello mandou soltar o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão condenado como um dos mandantes do assassinato da missionária

Moção de apoio da OAB ao Padre Amaro Lopes

MOÇÃO DE APOIO AO PADRE JOSÉ AMARO LOPES SOUZA, COORDENADOR DA COMISSÃO PASTORAL DA TERRA EM ANAPU/PA.

A VII Conferência Internacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, realizada nos dias 23 a 25 de maio de 2018, no Centro de Eventos do Ceará, Fortaleza/CE, vem a público manifestar a sua indignação à prisão ilegal e arbitrária, do padre José Amaro Lopes Souza, a qual ocorreu no dia 27 de março de 2018, na Prelazia do Xingu, Município de Altamira, Estado do Pará.

Padre Amaro está sendo vítima de uma armação perpetrada pelos poderes políticos e econômicos da região de Anapu, Estado do Pará, por defender, categoricamente, a luta pela terra e se insurgir contra a impunidade de grandes latifundiários e madeireiros, que fazem da região uma das mais violentas do país; a exemplo do assassinato da irmã Dorothy Stang, ocorrido em fevereiro de 2005, trabalho ao qual padre Amaro vem dando continuidade desde então, mesmo sofrendo insistentes ameaças de morte.

Os crimes imputados ao padre Amaro não se sustentam juridicamente, pois estão relacionados à sua atividade de militância, evidenciando ardilosa armação na tentativa de criminalizar sua aguerrida luta, baseando-se em depoimentos falaciosos de fazendeiros e pistoleiros, que há muitos anos tentam desqualificar as atividades da Comissão Pastoral da Terra na região.

Os advogados da CPT e da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) analisaram o inquérito instaurado pelo delegado do Município de Anapu/PA, sob o nº 136/2017, constatando que as acusações são baseadas em depoimentos de latifundiários e grileiros que ocupam a Gleba Bacajá, em Anapu/PA – área pública da União, ilegalmente ocupada por eles e denunciada há anos pelo padre Amaro.

Considerando que estamos vivendo um período de desconstrução de direitos e de criminalização das lutas sociais, a exemplo do malfadado Projeto de Lei 9.604/2018, o qual tramita na Câmara, e propõe a alteração da Lei Antiterrorismo 13.260/16, passando a relacionar as manifestações de luta pela terra e ocupações a atos de terrorismo.

Considerando que a Ordem dos Advogados do Brasil, enquanto instituição historicamente democrática, possui como uma de suas finalidades, a defesa dos direitos humanos, da justiça social, conforme determinado no artigo 44, inciso I, da Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994, e não compactuada com este esfacelamento de direitos, repudiando essa grave ameaça à ordem jurídica e aos direitos humanos no nosso país.

Nesse sentido, manifestando nossa solidariedade, exigimos a libertação imediata do Pe. José Amaro Lopes Souza, que sempre dedicou sua vida à causa da democracia e dos direitos humanos, atuando numa região de banalização da vida em prol de interesses econômicos e políticos e que, por conta de seu engajamento contra esse poderio, está sofrendo inverídicas acusações.

domingo, 20 de maio de 2018

Luciano Albano Fernandes morto à tiros em Anapu

O empresário Luciano Albano Fernandes foi matado à tiros na área da antiga serraria da família Fernandes. Ele é irmão do ex-vice-prefeito de Altamira, Silvério Fernandes, e do fazendeiro e ex-vice-prefeito de Anapu, Laudelino Délio Fernandes.

Silvério Fernandes diz em vídeo que "invasores de terra entraram na casa onde moramos aqui em Anapu ... e deram dois tiros no peito dele". Mostrando a cara do Bolsonaro na camiseta, continua dizendo "Meu irmão, nos ajude! Nos temos que combater estes invasores de terra, estes criminosos..."

Segundo as mídias até o momento não se sabe o motivo do crime.


TV Cidade SBT, 20 de maio de 2018
Irmão de ex vice prefeito de Altamira é morto a tiros em Anapu
Foi assassinado à tiros em Anapu, o empresário e pioneiro na Região Transamazônica e Xingu, Luciano Albano Fernandes de 52 anos.

G1-O Globo, 20/05/2018
Irmão do ex-vice prefeito de Altamira é morto no município de Anapu
O empresário foi alvejado com três tiros quando estava na varanda de casa. A vítima ainda chegou a pedir ajuda para os irmãos que estavam na residência, mas não resistiu e morreu no local.


Os irmãos estavam envolvidos no assassinato da irmã Dorothy Stang em 2005 como também no inquérito do padre Amaro Lopes este março.

Veja o Análise do inquérito que motivou a prisão de padre Amaro da CPT :

SILVÉRIO FERNANDES é irmão do Fazendeiro LAUDELINO DÉLIO FERNANDES, que chegou a ser investigado por suposta participação no assassinato da Missionária Dorothy Stang em 2005. DÉLIO FERNANDES fazia parte junto com REGIVALDO PEREIRA GALVÃO, o “TARADÃO”, e outros fazendeiros da região de Anapu, da conhecida MÁFIA DA SUDAM. Essa ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA foi denunciada pelo Ministério Público Federal por fraudar projetos agropecuários e se apropriar de milhões da extinta SUDAM. DÉLIO FERNANDES foi denunciado pelo desvio de quase 5 milhões de reais, através de notas e contratos falsos. Para viabilizar os falsos projetos na SUDAM o grupo passou a se apropriar ilegalmente de terras públicas federais na região de Anapu. À época, Dorothy denunciou DÉLIO por se apropriar ilegalmente dos lotes: 56,58 e 61 da Gleba Bacajá.[1]

Dorothy denunciou também SILVÉRIO ALBANO FERNANDES de se apropriar ilegalmente do lote 75 da Gleba Bacajá. Em depoimento prestado no dia 28/11/2002, perante a Polícia Federal, Dorothy relatou uma ameaça sofrida por parte de SILVÉRIO:

“Que em meados de setembro quando a declarante se encontrava a pé na estrada TRANSAMAZÔNICA, um veículo parou para lhe oferecer carona, sendo que a declarante não conhecia o motorista; Que durante a carona o motorista se apresentou para a declarante como SILVÉRIO FERNANDES, dizendo para a mesma que ninguém invadisse suas terras, ou “TERIA SANGUE ATÉ A CANELA”. (fls. 1737 da ação penal que apurou o crime contra Dorothy).

No ano de 2002, REGIVALDO PEREIRA GALVÃO, se associou a SILVÉRIO FERNANDES, para adquirir o controle de LOTE 55; quem endossou o negócio foi DÉLIO FERNANDES. As negociatas sobre o Lote 55 entre Regivaldo, Délio e Silvério, prosseguiram até chegar em outro sócio da organização criminosa: VITALMIRO BASTOS DE MOUTRA, o “BIDA”. Foi esse grupo criminoso que decidiu a morte de Dorothy. No dia do assassinato da Missionária Dorothy Stang, BIDA se refugiou na fazenda de Délio Fernandes e ali permaneceu até sua fuga.


ÚLTIMO ADEUS A LUCIANO FERNANDES

quarta-feira, 16 de maio de 2018

MAB-Amazônia em defesa da liberdade do Padre Amaro


MAB-Amazônia, 15/05/2018
Carta do Oeste do Pará em defesa da liberdade do Padre Amaro

Companheiro Padre Amaro,

Nós aqui reunidos no 1º Encontro Estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens e presentes no Congresso do Povo do Oeste do Pará, articulados em conjunto com as organizações da Frente Brasil Popular, reunidos de 10 a 12 de maio de 2018 na cidade de Altamira – PA, somos mais de 500 militantes de diversas organizações, atingidos e atingidas por barragens de várias regiões do Estado do Pará, representando os municípios de Altamira, Brasil Novo, Senador José Porfirio (Souzel), Vitória do Xingu, Itaituba, Santarém, Marabá, Tucuruí, Salinas, Anapú, Trairão, Belém e Ananindeua, dentre outros. Somos trabalhadores e Trabalhadoras, integrantes de partidos políticos, sindicatos, centrais sindicais, entidades estudantis, organizações de jovens e de mulheres, pastorais sociais, movimentos populares do campo e da cidade. Nós Somos a Frente Brasil Popular!

Estivemos refletindo a luta pela soberania energética e popular na Amazônia, e as políticas públicas do estado, refirmamos a estratégia do movimento e nossos desafios políticos pela soberania do nosso Povo, fortalecendo a luta social na região Norte.

Diante da situação sociopolítica agravante do país, e com o aprofundamentos da difamação, perseguição e criminalização de lideranças e movimentos sociais, queremos aqui reforçar o apoio em solidariedade a você companheiro Pe. José Amaro Lopes de Sousa, que desde o dia 27 de março, teve sua liberdade aprisionada e cerceada pela decretação de uma prisão motivada por acusações de Crimes que precisam ser elucidados pela justiça.

Pe. Amaro, somos sabedores de sua luta pela vida e por justiça. Você que é natural do estado do Maranhão, exerce o sacerdócio desde 1998 em Anapu, como coordenador da CPT, deu continuidade à luta iniciada pela Ir. Dorothy, assassinada no dia 12 de fevereiro de 2005. Defensor da vida, da terra e dos pequenos, tem lutado pela garantia da vida e dignidade do povo de Anapu, cumprindo a sua missão profética, junto ao povo de Deus lhe confiado, levando a boa notícia aos pobres e uma igreja em saída.

Por isso, nós repudiamos as acusações infundadas a você que vinha há anos sendo alvos de difamação nessa sociedade que mata, expropria e criminaliza aqueles que dão a vida pela irmã e pelo irmão. Pe. Amaro, você esteve presente esses dias conosco no meio de nós, presença viva na mística e em nossas lutas. Afirmamos que tua prisão injusta e sem fundamentos só afirma a perseguição aos movimentos populares da região da Transamazônica e Xingu. Sabemos de sua fidelidade a luta dos pobres e oprimidos nessa região e dizemos:

Avante Amaro!

Amaro Livre!

Altamira, 12 de maio de 2018

sábado, 12 de maio de 2018

Segundo dia do Seminário Xingu Terra de Resistências

Participação de Dom Frei João Muniz
O Seminário Xingu Terra de Resistências encerrou com aprovação do documento final com propostas e encaminhamentos em relação aos desafios da Região Transamazônica e Xingu. Esses dois dias reafirmaram nossa territorialidade, sentido de pertença, resistência e ação. Foi sinal de esperança, união e comunhão.
AVANCEMOS!



Relatório do Seminário Xingu Terra de Resistências

A abertura do seminário foi realizada com uma mística a margem do Xingu lembrando o solo sagrado de cada comunidade presente, os mártires da terra cultivada. A água que a banha e dar vida, é simbolo de nossa resistências como povo Xinguara. É um grito pela liberdade de Pe. Amaro.

As palavras da coordenadora do Campus Universitário de Altamira-UFPA, de Dom Frei João Muniz e de Antônia Melo reforçaram a memória, identidade, lutas, conquistas e Cima de tudo a importância de sermos um povo de Resistências. Um solo sagrado com muitas lutas, conquistas e desafios, mas de guerreiros/as que resistem pela vida.



#Padre Amaro Livre

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Religiosos do Brasil (CRB) solidários com Pe. Amaro



CRB NACIONAL
CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL

SDS Bloco H nº 26 Sala 501- 517 – Edifício Venâncio II
CEP: 70393-900 – Brasília – DF – Tel.: (61) 3226-5540

Padre Amaro,

Irmão de caminhada, chamado por Deus a defender a vida da floresta e dos pequenos sem terra, um abraço de paz em Cristo Ressuscitado!

Somos 600 religiosas e religiosos, reunidas/os no Seminário Nacional da Vida Religiosa Consagrada, em Aparecida, a Casa da Mãe.

Refletimos e rezamos em comunhão contigo, também, imaginando você preso injustamente pela causa que há anos está defendendo.

A profecia não se pode prender, caro padre Amaro. Nos sulcos abertos por Irmã Dorothy e muitos outros mártires, você e tantas pessoas foram semeando vidas que ninguém pode arrancar.

Maria, Mãe dos pobres e companheira da caminhada, esteja contigo e com as pessoas que você ama e serve.

E nós, de todos os cantos deste grande Brasil, queremos colocar nossa liberdade a serviço da libertação de todos os excluídos e excluídas!

Empenhamo-nos, também, a participar da campanha em favor de sua liberdade. Sigamos unidos e unidas em Jesus, que também foi preso, mas vive livre em cada um e cada uma de nós.

Aparecida, 8 de maio de 2018.

Ir. Maria Inês V. Ribeiro, Presidente da CRB Nacional
Ir. Edgar Genuíno Nicodem, Diretoria da CRB Nacional
Ir. Maria Petronila de Souza, Diretoria da CRB Nacional
Ir. Benedito de Oliveira, Diretoria da CRB Nacional
Fr. Cláudio Sérgio de Abreu, Diretoria da CRB Nacional
Ir. Cacilda Mendes Peixoto, Diretoria da CRB Nacional

As religiosas e religiosos da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB).

Fonte: Comunicação CRB, 10 Maio, 2018

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Frei Xavier Plassat explica o caso de Pe. Amaro


Por que Pe. Amaro está preso? Frei Xavier Plassat explica
VaticanNews, 2/05/2018
O sacerdote, que tem recebido ameaças de morte desde 2005, trabalhou vários anos com Dorothy Stang, a missionária estadunidense assassinada em 2005 por fazendeiros. Desde então, Pe. Amaro tem seguido na luta pela defesa, conquista e permanência do povo no campo.
Entrevistado pelo Vatican News, Frei Xavier opina que se trata “de um conjunto de acusações fáceis de se desmontar, mas que, depois de veiculadas de forma pesada na mídia nacional, fica bem difícil”.

Ouça a reportagem completa em VaticanNews

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Participe da Campanha “Queremos Padre Amaro Livre!”

A mobilização “Queremos Padre Amaro Livre!” (#PadreAmaroLivre) tem como objetivo visibilizar o intenso processo de criminalização contra o Padre José Amaro Lopes, assim como exigir sua liberdade. O religioso está preso injustamente desde o dia 27 de março de 2018.

Padre Amaro é agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Anapu e também integra a Paroquia de Santa Luzia de Anapu, da Prelazia do Xingu, no Pará. Durante estes 13 anos após a morte de Dorothy Stang, ele e as Irmãs de Notre Dame de Namur – Congregação da qual a missionária pertencia – têm sofrido diversos tipos de ataques e ameaças.

O Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da CPT, registra e divulga, desde o ano de 2001, sucessivas ameaças de morte contra Amaro. De mesma maneira, a assessoria jurídica da CPT, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) e da Prelazia do Xingu, responsáveis pela defesa do religioso, analisaram o inquérito que motivou a prisão preventiva e manifestaram: “Ao que tudo indica, os fazendeiros mudaram de estratégia em relação ao PADRE AMARO. Ao invés de assassiná-lo, encontraram uma forma de desmoralizá-lo atacando sua imagem e criminalizando-o e, assim, conseguirem retirá-lo do município de Anapu”. Leia na íntegra

Participe dessa Campanha!

Sua mobilização é muito importante para a liberdade do Padre Amaro.



Envie e-mail (modelo abaixo) para a desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ-PA), Vania Lucia Carvalho da Silveira, responsável pela análise do pedido de Habeas Corpus em favor de Padre Amaro – preso injustamente desde o dia 27 de março de 2018.

Para: sccr@tjpa.jus.br
Cc: campanhaamaro@cptnacional.org.br
Assunto: HC n º 0803231-11.2018.8.14.0000 (PADRE AMARO)


Mensagem de e-mail:

À Sua Excelência, a Senhora

Desembargadora VANIA LUCIA CARVALHO DA SILVEIRA
Relatora do HC nº 0803231-11.2018.8.14.0000
Tribunal de Justiça do Estado do Pará.
Av. Almirante Barroso n 3089 – Bairro: Souza – CEP: 66613-710 – Belém – PA.

Telefone: (91) 3205-3331.
sccr@tjpa.jus.br

Senhora Desembargadora,

Tomamos conhecimento da redistribuição para Vossa Excelência do HC n º 0803231-11.2018.8.14.0000, em favor do PADRE JOSÉ AMARO LOPES, preso preventivamente, por decisão do Juiz da Comarca de Anapu (PA).

Sabemos que a Senhora Desembargadora é conhecedora da realidade fundiária que tem gerado graves conflitos naquele município, resultando em dezenas de mortes de camponeses nos últimos anos. De um lado, camponeses migrantes em busca da terra para morar e plantar, e do outro, grandes proprietários que ocupam ilegalmente milhares de hectares de terras públicas, que usam a grilagem e a pistolagem para se manterem, à força, nesses imóveis. O assassinato da missionária Dorothy Stang em fevereiro de 2005 expôs essa realidade para o Brasil e o mundo. O TJPA acompanhou e prestou todo apoio à tramitação do processo que apurou a responsabilidade pela morte da missionária e puniu os culpados.

Por ter dado continuidade ao trabalho de Dorothy, PADRE AMARO passou a ser odiado e perseguido pelos fazendeiros e grileiros das terras de Anapu, muitos deles, envolvidos na morte da missionária em 2005. O inquérito que originou a prisão de Amaro é resultado de uma articulação que envolveu mais de 15 fazendeiros do município que imputaram a ele uma série de acusações, cujo objetivo principal é afastar o religioso de suas atividades no município de Anapu.

Por não existir prova alguma, o Ministério Público de Anapu determinou o arquivamento da grave acusação de Assédio Sexual, feita pela Polícia Civil de Anapu contra AMARO. Na verdade, ele é vítima de grave violação de sua vida privada e de sua intimidade, contrariando a Constituição da República (art. 5º, caput e inciso X), o Pacto internacional de Direitos Civis e Políticos (art. 17 e 26) e a Convenção Americana de Direitos Humanos (art. 11 e 24), além de normas infraconstitucionais. Essa acusação leviana causou danos irreparáveis à imagem de PADRE AMARO.

No nosso entender, PADRE AMARO reúne todas as condições para responder, em liberdade, às acusações que pesam contra ele. É pároco no município por mais de 20 anos e seu trabalho é reconhecido por organizações de trabalhadores e entidades de defesa dos direitos humanos nacionais e internacionais.

Temos certeza que a Senhora Desembargadora fará JUSTIÇA ao decidir sobre o pedido feito pela defesa do PADRE AMARO.

Respeitosamente,

Livre da acusação de assédio sexual, Justiça do Pará mantém padre Amaro preso


Amazônia Real, 1/5/2018

Belém (PA) – Pároco da Igreja Santa Luzia em Anapu, o padre José Amaro Lopes de Sousa está preso há 34 dias no Centro de Recuperação Regional da cidade de Altamira, no sudoeste do Pará. A desembargadora Vânia Lúcia Carvalho da Silveira, do Tribunal de Justiça do Pará, negou um pedido de liberdade do religioso, que é coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O TJ abriu também a ação penal contra o religioso após receber a denúncia do Ministério Público com acusações de associação criminosa, ameaça, extorsão, esbulho possessório e lavagem de dinheiro contra ele. O religioso nega todas as acusações.
A promotora Gabriela Cabral Coutinho Andrade afirma que a acusação de assédio sexual contra Amaro foi excluída da denúncia do Ministério Público por entender que “os elementos não eram suficientes para demonstrar que houve coação”.
Na denúncia de assédio sexual haviam dois depoimentos contra o padre.Um feito por um casal que compareceu à delegacia de Anapu, em 2017, alegando que o religioso estaria assediando o homem. O segundo, realizado em março deste ano, por um outro homem que apresentou um vídeo com supostas imagens entre ele e padre Amaro.
Na prisão, padre Amaro está ciente da inocência. “Ele está inclusive celebrando missa na prisão”, relata a advogada Clara Morbach, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que visitou o religioso no último dia 19 de abril. Segundo ela, o sacerdote diz que está sendo bem tratado na presídio.
Por semana, o pároco pode receber duas visitas. Ele divide a cela com outros dois presos porque tem curso universitário. “Ele pediu que seus irmãos continuem visitando o povo (os sem-terra), que não se amedrontem com as ameaças”, revelou a advogada Clara Morbach.
“Ele [Amaro] disse que o que mais dói nele é estar preso no mesmo lugar que o assassino da Dorothy, o Taradão”, afirmou a freira.
A missionária Dorothy Stang foi assassinada em 2005. O fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, cumpre a sentença com mandante do crime. O padre substituiu a freira na coordenação de CPT de Anapu.
A defesa de Amaro considera as acusações contra ele uma perseguição política em função de sua atuação em áreas de conflitos agrários do Pará.
Para o advogado de defesa Marco Apolo Santana Leão, a acusação de assédio sexual “foi meramente para desmoralizar o padre”.
As demais acusações, como esbulho possessório e organização criminosa, são comuns em casos de lideranças rurais, avalia Marco Apolo. “Isso já foi denunciado na ONU [Organização das Nações Unidas], que já até condenou esse tipo de postura aqui no Brasil.”

Denúncias de fazendeiros

Padre Amaro denuncia a violência de fazendeiros contra os sem-terra  (Foto Alberto César Araújo/Amazônia Real/2006)

O pedido de liminar do habeas corpus liberatório de padre Amaro foi negado no dia 23 de abril em decisão monocrática da desembargadora Vânia Lúcia Carvalho da Silveira, do TJ do Pará.
Com a negação da liminar pelo tribunal, o habeas corpus segue em tramitação. A desembargadora encaminhou um pedido de informação à Comarca de Anapu. Assim que a comarca enviar a resposta, o Ministério Público se pronunciará sobre o assunto e, então, o habeas corpus terá uma decisão colegiada na seção de Direito Penal do Tribunal de Justiça.
“Por ora, a desembargadora não via elementos para conceder a liminar”, disse o advogado Marco Apolo. “Pra gente não muda muita coisa. Vamos esperar o julgamento do mérito. A gente acredita na inocência de padre Amaro.”
O habeas corpus foi a segunda tentativa de soltura de padre Amaro. A primeira havia sido o pedido de revogação da prisão preventiva, que aconteceu no dia 27 de março.
“O juiz, depois que decretou prisão preventiva, manteve os mesmos motivos. Ele alega que existe perigo à ordem pública e à instrução do processo”, diz Marco Apolo, se referindo à decisão da Comarca de Anapu, no início de abril.
Ainda sobre a revogação da prisão preventiva, o Ministério Público foi consultado, mas considerou “pela manutenção da prisão como forma de garantia da ordem pública e da instrução do processo”, disse a promotora Gabriela Cabral Andrade, do município de Anapu.
Perguntada sobre as críticas da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que contesta a permanência da prisão preventiva, a promotora Gabriela argumentou que, “embora sejam avaliadas essas circunstâncias de ele ser réu primário e ter residência fixa, já há jurisprudência e doutrina que são suficientes para manter a prisão”.
A denúncia do MP foi enviada à Justiça no dia 16 de abril. O documento é assinado também pelos promotores Antônio Manoel Cardoso Dias e Daniel Braga Bona. Segundo a denúncia, a investigação transcorreu por mais de um ano, tendo ficado constatado que a liderança de padre Amaro, é “exercida por meio de condutas criminosas”. E, ainda, que Amaro “valia-se de sua posição de pároco do município de Anapu e de Presidente da Comissão Pastoral da Terra para liderar grupos de pessoas que, em nítida associação criminosa, praticavam diversos delitos”.
“O inquérito veio bem fundamentado, tem diversas provas em relação a esses crimes. Entre elas, poderia citar os depoimentos de várias pessoas: fazendeiros, colonos, ex-participantes do movimento de ocupação de terras, familiares de algumas vítimas de conflitos”, disse a promotora Gabriela Cabral Andrade.
“Há alguns documentos que comprovam que tem bens no nome dele e em tese é incompatível com a ajuda de custo da igreja, depósitos bancários que algumas vítimas fizeram em nome dele e de familiares”, explica ela.
A defesa de Amaro, porém, também contesta a atuação do MP no caso. Para Marco Apolo, “a denúncia traz um vício por 90% das testemunhas serem fazendeiros”, que o advogado considera inimigos do padre.
“A promotora não ouviu Amaro, nem a defesa e nem pediu para indicar testemunhas de defesa. Ouviram uma versão unilateral da polícia, que não gosta de padre Amaro. É uma polícia muito parcial na região”, denunciou Marco Apolo.
“O MP, quando acompanha a posição da polícia, sem questionar, sem sequer entrevistar o Amaro, ele peca também. Nessa questão, o MP é um antagonista e está fazendo um desserviço da justiça.”
Sobre o crime de associação criminosa, a denúncia argumenta que, “desde 2005 até os dias atuais o denunciado [padre Amaro] exerce a liderança de grupo de pessoas armadas com a finalidade de promover invasões e ocupações ilegais de terra para posterior venda de lotes”. Para chegar a essa conclusão, os promotores reuniram, além de depoimentos e declarações, vídeos e áudios.
A denúncia também aponta crime de lavagem de dinheiro. Segundo o MP, padre José Amaro “dissimulou os valores provenientes da infração penal, convertendo-os em ativos ilícitos”.
Para os promotores do MP, documentos oriundos da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) apontam que Amaro é proprietário da fazenda “Terra e Vida”, que fica na zona rural de Anapu, e de 125 cabeças de gado.
“Tudo em seu nome, tendo origem questionável, pois, como ressaltado pela autoridade policial, o denunciado só recebe dois salários mínimos em razão do ministério sacerdotal”, diz a denúncia do ministério.
Crimes de extorsão e esbulho possessório também são apontados pelos promotores, reunindo 11 vítimas. Em um dos casos, a vítima de iniciais A. N. V. teria sido constrangida, “mediante violência e grave ameaça, com o intuito de obter para si vantagem econômica indevida, a efetuar pagamentos em dinheiro e outros bens”. Em razão das ameaças, a vítima teria efetuado depósitos e transferências para padre Amaro.
Os promotores consideram “a materialidade e os indícios suficientes de autoria para o oferecimento da denúncia”, em que consta depoimentos ou termos de declaração de 29 pessoas, boletins de ocorrência, fotos de desmatamento, comprovantes de depósitos bancários, ata de reunião, relatório de fiscalização do Ibama, print de conversa do aplicativo Whatsapp, ofícios e transcrição de áudio de reuniões.
Para a ação penal, os promotores arrolaram 35 pessoas, entre vítimas e testemunhas. O documento também requer ao padre Amaro resposta por escrito sobre as acusações. A Comarca de Anapu deve decidir se iniciará ou não ação penal.
Para a defesa de Amaro, as acusações contra o religioso serão desconstruídas durante o processo.
“A defesa não confia na polícia. Vamos apresentar nossos argumentos em juízo, que é o espaço para isso. Só o processo criminal no judiciário, com ampla defesa e o contraditorium, é que garantirá isso”, completa o advogado Marco Apolo. “Poderemos arrolar testemunhas, pedir perícia para comprovar a inocência de Amaro.”

Apoiando os presos

Padre Amaro na missa de sétimo dia da irmã Dotothy Stang em 2005 (Foto Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Na prisão, padre Amaro presta assistência social aos presos, função que exercia quando integrava a Pastoral Carcerária, organização da Igreja Católica. Segundo Clara Morbach, ele tem “dado apoio para algumas pessoas lá dentro, algumas pessoas que acabam buscando uma palavra e ele tem essa prática de padre, de ouvir”. Para ela, “essa é uma forma de arranjar forças para estar lá”.
“Ele está firme nos ideias dele, na consciência do trabalho que fez durante toda a vida. Sabe que isso é uma armação, uma prisão política”, avalia a advogada.
No último dia 19, o pároco de Anapu recebeu representantes do Conselho Nacional dos Direitos Humanos. “O objetivo da visita do conselho era dar apoio político e ver como ele está na prisão”, disse Morbach. O conselho também realizou visita ao município de Anapu em função do acirramento de conflitos agrários na região.

Denúncias de perseguição

Contestada por organizações que atuam na defesa de direitos humanos na Amazônia, a prisão de padre Amaro ocorreu em um momento de tensão na região do município de Anapu.
A agência Amazônia Real teve acesso à gravação de discurso feito por Amaro, em audiência pública realizada na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Belém, cerca de três semanas antes de sua prisão.
“Para nós, fica o repúdio e uma vergonha. Depois de 13 anos da morte da Dorothy, estar se discutindo aqui a questão do PDS [Projeto de Desenvolvimento Sustentável] 3 e 4”, denunciou padre Amaro, se referindo ao PDS Virola-Jatobá, no município de Anapu.
Ainda na audiência pública, Amaro denunciou que vinha sendo perseguido pela Polícia Civil nos últimos meses. “Não sei se tem alguém representando a Polícia Civil aqui, mas nos últimos dias, quando foi preso o trabalhador que é motorista da paróquia, a Polícia Civil, lá dentro… Pegaram e disseram que a batata do padre Amaro está assando”, denunciou, na ocasião, o sacerdote, na presença de representantes da Ouvidoria Agrária do Incra, Defensoria Pública e outros órgãos com atuação na questão agrária.
O motorista foi preso por porte ilegal de arma. “Quando o pessoal vai na delegacia registrar o B.O. [Boletim de Ocorrência], é mal recebido. Não são tratados como cidadãos. Trabalhador é tratado como lixo. A gente quer que o trabalhador e trabalhadora possa ser respeitado nos seus direitos.”
A recente onda de conflitos fundiários na região, afirmou padre Amaro, se deve à implantação da hidrelétrica de Belo Monte, na vizinha Altamira.
“Eu sei que realmente o Anapu cresceu. A culpa que estamos pagando é do complexo hidrelétrico de Belo Monte. As pessoas ficaram desprovidas de tudo”, avaliou Amaro. “Altamira hoje sai como a cidade mais violenta de toda a região porque trouxeram esses trabalhadores. Depois a barragem jogou fora e ficou ali. Aí procura um pedaço de terra, porque quando a pessoa está com fome procura um lugar para trabalhar.”
Ainda de acordo com a denúncia de padre Amaro, “o Anapu está um estopim”.  “O que a gente quer é respeito para os trabalhadores rurais. A gente vem aqui, mete a cara, no outro dia você amanhece morto”, lamentou. “O que queremos é que a memória dessa mulher de 73 anos [Dorothy Stang], que veio a essa casa [OAB, em Belém] várias vezes, pedindo segurança e mataram covardemente. E depois dela já mataram vários.” Ainda segundo ele, de 2015 a 2018, 15 trabalhadores rurais foram assassinados somente no município de Anapu.