AGÊNCIA FOLHA, 1 de março de 2005
Petebista diz que acusação deturpa investigações
O prefeito de Anapu, Luiz dos Reis Carvalho (PTB), negou ontem qualquer envolvimento no assassinato da missionária Dorothy Stang.
Segundo ele, as afirmações de Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, não são verídicas e foram feitas para deturpar as investigações. O prefeito se defendeu das acusações numa audiência pública realizada por quatro senadores em Anapu, ontem à tarde.
No dia do crime, Carvalho chegou a divulgar uma nota de repúdio contra o assassinato. No documento, o prefeito diz demonstrar sua solidariedade e respeito pelo "grande trabalho social" desenvolvido por Stang. Ontem ele foi não foi localizado.
O fazendeiro Laudelino Délio Fernandes Neto, 45, conhecido como Délio, não aparece há vários dias em sua casa em Altamira. Pelo interfone, seu irmão Luciano Fernandes dizia, na quinta-feira, que Délio estava em uma fazenda nos arredores. Desde esse contato, os telefones e os celulares permaneceram incomunicáveis.
Na sexta-feira, no aeroporto de Altamira, a Folha localizou outro irmão do agropecuarista, o vice-prefeito de Altamira, Silvério Albano Fernandes (PTB). Questionado sobre o paradeiro de Délio, Silvério Fernandes disse que ele estava "numa das fazendas da famílias".
Sobre um suposto envolvimento, afirmou: "A gente tinha confronto de idéias [com a irmã], mas era judicialmente, jamais iríamos agir dessa forma".
AGÊNCIA FOLHA, 1 de março de 2005
Para a polícia, depoimentos reforçam existência de "consórcio"
Indiciados depõem e citam prefeito em morte de freira
Dois indiciados por autoria e co-autoria na morte da missionária Dorothy Stang, 73, envolveram ontem no caso o prefeito de Anapu (PA), Luiz dos Reis Carvalho (PTB), e o fazendeiro Laudelino Délio Fernandes Neto. As polícias Federal e Civil investigam as novas informações e convocarão o prefeito e o fazendeiro para depor nos próximos dias.
Rayfran das Neves Sales, 27, o Fogoió (que confessou ser o executor dos disparos que mataram a irmã no último dia 12), disse à comissão do Senado que investiga o caso, numa sala na delegacia de Altamira (PA), que o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, 34, o Bida (suposto mandante do crime, foragido), disse a ele após o crime que "iria fazer uma coletinha" para pagar um advogado.
O advogado os defenderia caso algum deles fosse preso. Para coletar o dinheiro, Bida teria dito que iria procurar o prefeito de Anapu. Segundo Fogoió, Bida também disse que pediria um avião a Laudelino Délio Fernandes Neto para fugir da região.
Délio, como o fazendeiro é conhecido em Altamira, é um dos maiores fazendeiros da região e é apontado pelo Ministério Público Federal como fraudador de projetos da extinta Sudam.
Além dele, a PF e Polícia Civil vão investigar o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, que vendeu a fazenda em Anapu para Bida e é réu no mesmo processo que apura desvio de verbas da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). A CPI da Terra pediu na semana passada, em Brasília, a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Bida, Délio e Taradão.
Acareação
A Folha teve acesso a trechos da acareação feita pelos senadores na manhã de ontem. Segundo Fogoió, Bida disse a ele: "Vocês livram a nossa cara. Vou arrumar um advogado e vou fazer uma coletinha, com o prefeito, e vou pedir um avião para Délio para sair". Fogoió chorou durante o depoimento, disse estar arrependido e que Bida mandou que eles saíssem da fazenda porque a polícia iria para o local.
Já Amair Feijoli da Cunha, o Tato, negou que tenha sido o intermediário entre o mandante e os pistoleiros. "Não posso assumir uma coisa que eu não fiz." Ele disse ainda ter percorrido a pé 120 km em uma semana de fuga na mata se alimentando apenas de farinha. O relato não convenceu os senadores nem os delegados.
O depoimento de Fogoió reforça a tese de que haveria um "consórcio" para arrecadar verbas. As declarações de Fogoió foram confirmadas por Clodoaldo Carlos Batista, 31, o Eduardo, indiciado como co-autor do assassinato.
Além de Fogoió e de Eduardo, as polícias Federal e Civil indiciaram ontem por crime hediondo Tato, como co-autor, e Bida, como co-autor e mandante.
O inquérito foi entregue à Justiça de Pacajá. As polícias indiciaram dois vaqueiros de Bida que ajudaram na fuga dos acusados e foram presos no fim de semana pela PF. "Vamos instaurar autos complementares para investigar as novas informações", disse o delegado Ualame Machado.
"Os executores reconhecem que, quando chegaram à fazenda do Bida [após o crime], ele teria dito para que fugissem e que, se fossem presos, negassem a participação dele [Bida] e de Tato, porque ele arrumaria um advogado no valor de R$ 50 mil a R$ 100 mil para defendê-los. Eles fariam uma coleta para arrecadar o dinheiro e mencionaram o nome do prefeito de Anapu", disse o senador Demóstenes Torres (PFL-GO), relator da comissão do Senado criada para acompanhar o caso.
A comissão ouviu também lideranças em Anapu e enviará as notas taquigráficas para as polícias. O relatório final será entregue ao governo federal. Além de Torres, integram a comissão os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Ana Júlia Carepa (PT-PA) e Flecha Ribeiro (PSDB-PA).
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